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CAPA ESPECIAL

Maitê Piragibe

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Foto: Andressa Guerra

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Foto: Fábio Audi

Qual é o significado para você em ser mãe?

A palavra que simboliza bem é nutrição. Nutrição diz respeito a muitas coisas, a educação, cultura, lifestyle saudável e ligado à natureza, alimentação orgânica, natural e saudável. Maternidade pra mim é incentivar a criança a ter liberdade de expressão, incentivar a várias possibilidades de expressão, de repertório, de conhecimento, experimentação para poder desenvolver e capacitar qualquer profissão que ela venha escolher e desabrochar quando virar uma mulher. Maternidade é nutrir no afeto, no amparo, no papo sério, nutrir com ética, valores, honestidade e caráter. Maternidade é me nutrir também para ter forças para continuar sendo a nutridora. É tão lindo e maravilhoso ter mãe e aceitar que essa mãe não é perfeita e ser mãe e integrar todas as minhas dificuldades, mas sempre com foco de ser a minha melhor versão para motivar e inspirar minha filha a ser sempre um ser humano melhor. 

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O que você espera da sua vida nos próximos anos?

Passamos um filme de ficção científica de uma realidade distópica, um tanto quanto do gênero de terror, nesses últimos 2 anos e acredito muito na força da cultura, na força da arte. Tem um lado bom da pandemia que acredito que a grande população olhou com mais atenção, dedicação e respeito aos criadores, aos criativos, aos artistas, realizadores das artes em todos os segmentos, tanto na música e principalmente audiovisual, onde tudo estava muito online, conectado com a expansão do streaming e a facilidade dessa globalização de conteúdo.

 

A questão do presencial, do resgate do presencial agora que o mundo voltou, da presença dos festivais de música, do teatro, das intervenções artísticas, nas artes plásticas, na própria dança e em toda a sinergia que é uma multi expressão artística da nossa cultura, principalmente o nosso resgate, essa nova assinatura nacional da criatividade do brasileiro, para a gente resgatar nossa autenticidade e principalmente criar espaços para políticas públicas mais atentas a esse investimento que é um retorno muito grande. A economia recreativa gera um retorno absurdo na economia mundial. O mercado internacional já olha isso com muita atenção, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa e em alguns lugares aqui na América Latina já tem uma atenção maior, não só das políticas públicas, dos governos, das governanças, mas também dos próprios empresários desse segmento, então, espero que essa economia seja estimulada, fomentada para criar ainda mais arte, mais multiplicidade e diversidade nessas pressões.

Foto: Fábio Audi

Eu me reinventei pós pandemia já com o meu documentário, na linha de realização nesse conceito showrunner, que essa atriz também que se produz, que desenvolve roteiros de suas próprias ideias, discursos e argumentos é algo que eu quero continuar a desenvolver. Resgatar o meu serviço como atriz, trabalho há mais de 33 anos nesse cargo especificamente, mas que eu pude também me reinventar e descobrir a paixão e uma vocação, que eu nem sabia que tinha, como apresentadora, comunicadora e também creature dentro das redes sociais, dos meus projetos autorais e da minha empresa de óleos essenciais, junto com a minha família que me dá total suporte para empreender nesse Brasil. Então, desejo que eu continue tendo muita saúde e coragem para não desistir dos meus sonhos e que eu possa servir de inspiração não só para quem está perto de mim, mas também modelo dessa juventude, estudantes, que eu possa incentivar, gerar empregos, ter a oportunidade de exercer minha arte, também ser contratada, expandir essa expansão de comunicação.

Em casa, entre amigos, quem é a Maytê?

São muitas camadas, mas em casa a Maytê é mãe, filha, amiga falando de arte, amor, inclusão, empatia, sobre criatividade. Eu trabalho com o que eu amo, então meu hobby, minha diversão é toda focada na arte, respiro arte o tempo inteiro, então, obviamente, meu círculo íntimo também se abastece desse oxigênio. Minha função como mãe é dar ferramentas para minha filha, para ela poder desenvolver aptidão e descobrir as multi aptidões para se desenvolver na maioridade e poder se profissionalizar. Eu sou muito comprometida, muito leal, cuidadosa com os meus e na vida, no dia a dia, acho que gentileza nunca é demais. Estudo e educação é a base fundamental pra gente criar uma sociedade mais consciente, mais ativa e sair dessa letargia que eu tento fugir a todo o custo, nesse narcisismo superficial, dessas embalagens fakes e a gente ir mais para a essência.

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Foto: Rafa Paião

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Lugar para viajar e sempre voltar?

Um lugar que eu vou e sempre volta é a propriedade na Serra da Bocaina, Fazenda Pingo do I, que existe já faz 25 anos, e que nos últimos 5 anos, eu e minha mãe desenvolvemos um projeto. Ela é a CEO da empresa, grande líder feminina e eu dou o suporte de investimento nesse projeto. Quando ganhei o Dancing Brasil, na Record, eu queria dar um suporte e pensar no meu futuro, e resolvemos fazer esse investimento. No local, plantamos ervas medicinais e a gente desenvolve produtos muito especiais com o selo orgânico, profissionalizado, organizado e regulamentado, que são os óleos essenciais e os hidrolatos, que são essas águas que vêm desses óleos e o mel de lavanda. É um lugar que me nutre, me abastece, traz cura, potência e equilíbrio, possibilidade de empreender e levar a nossa energia, nossa matéria-prima tão rica e sagrada que são as nossas plantas. A prosperidade, abundância que Deus nos oferece nas terras da Essência da Bocaina, onde existem outros produtores rurais, cada um nos seus segmentos, formando uma grande família e colaboração. Estar em um ambiente rural, onde eu cresci, minha válvula de escape, meu templo, minha igreja e é onde eu sempre retorno para resgatar essa cura.

Foto: Fábio Audi

Você gosta de moda?Acompanha?

Acompanho e amo! Moda pra mim remete a figurino, expressão artística, a gente pode ser muitas em uma e poder se transformar, ter muitas roupagens através da nossa vestimenta. Eu acho que é uma poderosa forma de ser lida pelo outro, de se expressar, mas também de se sentir bem, empoderada e confortável.

Pra mim, moda é arte e acompanho há muitos anos, inclusive a moda internacional. Tenho um aplicativo maravilhoso e quando tem esses lançamentos da semana de moda internacional, aparece todas as fotos e os briefing, e eu tenho uma stylist, a Ana, que me ajuda muito nessa produção de moda com os trabalhos, já que é necessário esse trabalho de como você quer ser vista. Acho que é uma arte super divertida, mas não sou refém, pelo contrário, o que é atemporal é mais interessante pra gente ter uma consciência de consumo inteligente, pensando a longo prazo, na qualidade e relevância nesse pensamento atemporal, inclusive em circular, no sentido de reaproveitamento em brechós. Olhar para um designer nacional, olhar para o segmento de moda que está em desenvolvimento aqui no Brasil, fomentar esses criadores e também slow fashion, essa cadeia mais sustentável. Eu gosto muito de designer que prioriza matéria prima natural, orgânica, tingimento natural, um pensamento mais consciente dentro dessa economia que polui muito. Há uma transformação de consumo, principalmente dessa nova geração e a gente também, em pandemia, percebeu o quanto o nosso consumo era desenfreado e que hoje a máxima é primeiramente o conforto e com todas essas premissas para a gente poder investir o dinheiro e ter o retorno dele a longo prazo.

Como tudo surgiu? Quer mais? Nos conte um pouco sobre a sua carreira.

Comecei a trabalhar com 4 anos de idade no mercado de publicidade. Eu era aquela atriz muito comercial e com vontade de me comunicar desde muito cedo, muito disponível para o jogo. Meu primeiro projeto profissional eu nem sabia ler e já estava decorando o texto de 30 segundos em uma ação publicitária e daí eu descobri minha paixão, vocação pela arte, já nasci com esse propósito. Diante disso foi algo muito orgânico/natural, em torno dos 4 aos 13 anos trabalhei muito com publicidade, com 13 ingressei no teatro e fui estudar em uma escola clássica do Rio de Janeiro chamado "Teatro O Tablado", que é uma grande escola de formação de atores do teatro de improviso da Maria Clara Machado. Nesse circuito, com 13 anos, tinha total certeza que eu iria trabalhar profissionalmente com isso e fui estudar teatro para criar repertório e sustância para essa atriz que é grande casa, grande lar em formação dos atores.

Meu grande anseio era a televisão e o cinema, e fui para a televisão com 17 anos. Ingressei a faculdade de Artes Cênicas, não conclui, ingressei na faculdade de cinema e não concluí, pois fiquei 5 anos na rede Globo e 12 anos na rede Record, com contratos exclusivos, desenvolvendo a minha tese como atriz. Fui muito privilegiada dentro dessas oportunidades, aproveitei cada uma delas pra ter essa trajetória, esse portfólio muito diverso e muito produtivo nesses anos.

Nos últimos 4 anos eu quis me reinventar, resgatar a minha própria artesania, identidade autoral em relação a minha fala e minha expressão, e lancei um documentário em pandemia, depois de 4 anos de realização, chamado "Mise En Scéne a Artesania do Artista".

O documentário está disponível na Globoplay nacional e internacional. Esse é um documentário manifesto sobre a importância da criatividade, do processo criativo dos atores e atrizes do nosso país. Tenho 2 sócios nesse projeto, é o meu primeiro projeto pela minha produtora e meu CNPJ e desejo continuar desenvolvendo outros projetos, não só de documentários, mas também ficcionais, e esse, especificamente, tenho os meus 2 sócios que conseguiram estar juntos nessa tríade de realização. É um projeto guerrilha, sem patrocínio ou incentivo público, colocamos do nosso próprio bolso para realizar. Finalizamos e conseguimos lançar sendo selecionados para 4 festivais internacionais, sendo 2 festivais de Toronto, um dedicado às mulheres no cinema e outro cinema independente. O terceiro foi Unidos que é um festival pequeno de produção independente em Nova Iorque, nos Estados Unidos. O quarto foi o FIDBA, que é o maior festival de documentários da América Latina, que fica em Buenos Aires. Nesse festival a gente concorreu a direção revelação, sendo as únicas brasileiras a representar esse projeto. Agora, o documentário será exibido pela primeira vez no cinema no Festival de Vassouras. Eu vou participar presencialmente de um painel e falar sobre a mulher no audiovisual. 

Esse conceito de Showrunner é muito difundido fora do país, várias atrizes que eu admiro demais como Nicole Kidman, Michaela Coel e a Bridge, que fez Fleabag, são também roteiristas, atrizes que estão hoje na produção executiva, cargo que eu aprendi na raça e estou aprendendo a executar, criar, ser essa gestora criativa, essa liderança feminina na execução, realização e criação desses projetos mais autorais, dessas atrizes, que estão também atuando ou protagonizando, ou participando dessa coprodução.

Isso é um anseio que eu quero trazer para o Brasil. Temos um único grande nome que é a Alice Braga tem a produtora dela e uma carreira muito linda internacional, que eu me inspiro, e alguns outros nomes de poucas atrizes, que inclusive está no documentário, como Camila Pitanga que também já se desafiou dirigindo e produzindo alguns documentários e realizações próprias, ela mesmo está no reposicionamento de carreira. Juntamos alguns nomes relevantes, como Marco Nanini, Antônio Fagundes, o filho do Fagundes, o Bruno, que é um ator em expansão maravilhoso, Gabriel Leone, Cássia Kiss, Zezé Motta, Dira Paes, Gustavo Miranda e Glória Pires. No documentário a gente revela o processo criativo desses atores, a importância da arte no nosso país e que ele é um grande manifesto para defender a nossa classe e homenageá-la.

Fora isso, estou como apresentadora do canal Like, que é um canal de curadoria de cinema e audiovisual geral. Estamos há 4 anos no ar, em 2 anos a gente sobreviveu em pandemia trabalhando home studio, a gente dá dicas em programas rápidos de resumos de lançamentos, franquias e tributos em todos os segmentos e gêneros, é um lugar que aprendo muito com a minha atriz. É um ofício que exige estar por dentro de tudo que está acontecendo e relevante em cena, falamos de festivais internacionais também. É uma delícia, porque está dentro do meu lugar de fala como atriz, criadora, mas também desenvolvendo essa aptidão de comunicação e passar esse conteúdo tão relevante para o grande público. Agora nessa retomada, estamos lançando um programa chamado "As criativas" que é dedicado às mulheres do setor audiovisual, todas as mulheres em relevância, tanto na direção, figurino, execução, produção e atrizes focado nas mulheres, na potência feminina do audiovisual.

Nos diga uma frase ou pensamento que lhe define.

Uma frase que eu sempre falo, é um clichê, mas é Fernando Pessoa. É uma frase que agarrei bem jovem, que resume um todo "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Isso inclui as experiências boas e ruins, os desafios de estar nessa terra. Tudo vale a pena a partir da percepção que você olha para a dor, para a doença, para sombra, para a morte e para a vida. Quando a gente agrega, íntegra isso tudo e principalmente ser grato pela vida.

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