top of page

CAPA ESPECIAL

Maju de

Araújo

Maju-de-araújo---YOURMAGAZINE.jpg

Glauber Bassi

Em toda a sua carreira você já passou por dificuldades? Quais foram os maiores desafios que encontrou pelo caminho?

Eu passei por muito tempo e ainda hoje isso existe. Por todo o caminho que percorri eu sofri com preconceitos por ser uma pessoa com Síndrome de Down. Mas, eu também sempre fui uma pessoa que entendi que o céu é o limite, e isso me ajudou a ser mais confiante, assim como o apoio que recebi em casa, que também me tornaram mais forte e a chegar onde estou.

IMG_3157.JPG

Glauber Bassi

Maju, como veio todo esse seu desejo de se tornar uma modelo? Desde pequena você já sonhava  com isso?

Sim, esse sempre foi um sonho que tive. Desde criança ainda, época que eu até desenhava os looks do jeito que eu queria, ainda pegava as roupas de bonecas e maquiagens das minhas irmãs. Mas, tirando isso, eu sempre gostei de me arrumar e escolher tudo que eu iria vestir e depois tirar muitas fotos.
Mas o sonho mesmo veio em 2018, foi o ano que tudo começou a acontecer. Nessa época eu fui diagnosticada com meningite bacteriana e acabei entrando em coma, mas, no meio eu acordei e falei com a minha mãe, ali eu contei desse meu sonho de ser modelo, o que se tornou realidade após algumas semanas que acordei. No momento da alta, eu fui pra casa, me recuperei logo e comecei a me dedicar aos estudos e investir na carreira, me dando a oportunidade de já no ano seguinte estar me formando e fazer minha estreia na Brasil Eco Fashion Week.

Você foi a primeira modelo com Síndrome de Down a desfilar em grandes passarelas, como a de Milão e São Paulo Fashion Week. Você acredita que hoje esse universo da moda está mais inclusivo?    

Olha, por eu estar fora dos padrões das passarelas, onde se vê, em sua maioria, aquelas modelos bem altas e muito magras, eu acabo enfrentando alguns problemas com a adaptação de roupas. Então, ocorre de muitas vezes os sapatos serem muito grandes, as roupas precisarem de ajustes e na hora de entrar na passarela, ainda sim não estar legal. E isso, muitas vezes, causa um determinado constrangimento, pois me atrapalha na performance. Além disso, até hoje não encontramos uma agência que me aceite, então todos os meus trabalhos nas passarelas são mediados e fechados pela minha mãe e irmãs que são quem me ajudam a seguir esse sonho.
Essas são algumas das dificuldades que ainda encontramos, sem contar com a adaptação da linguagem e da comunicação. Às vezes sinto que se perde muita coisa pela falta de um cuidado maior. Mas se perguntar, e de maneira geral? Aí eu sinto que estamos dando passos para um universo mais inclusivo e de representatividade, pois só o fato de que eu estou estampando marcas importantes, isso já mostra o quanto nós podemos alcançar, e que eu sou uma pessoa real e também posso ir e ocupar esses espaços.

Em toda a sua carreira você já passou por dificuldades? Quais foram os maiores desafios que encontrou pelo caminho?   

Eu passei por muito tempo e ainda hoje isso existe. Por todo o caminho que percorri eu sofri com preconceitos por ser uma pessoa com Síndrome de Down. Mas, eu também sempre fui uma pessoa que entendi que o céu é o limite, e isso me ajudou a ser mais confiante, assim como o apoio que recebi em casa, que também me tornaram mais forte e a chegar onde estou.

O que é empoderamento feminino para você?   

Empoderamento feminino é esse lugar onde você entende o lugar que colocaram a mulher na sociedade, mas você também não aceita. Então, podem te colocar naquele lugar, mas você também é capaz de sair dele através dos seus posicionamentos, ideias, do quanto você vai se fortalecendo. Empoderamento feminino é você entender sobre as questões femininas, que realmente afligem nossa sociedade, e quando você estuda sobre isso, você vai crescendo, dialogando, abrindo discursos a respeito do tema e aí, de fato, conversando com outras mulheres você vai se empoderando, porque você vai entendendo que o que fizeram com você, com sua avó, sua mãe, não é o correto. Nos apagaram ao logo dessas eras e anos, empoderamento feminino é justamente o lugar da história da humanidade onde a mulher recupera aquilo que nunca deveria ter sido tirado dela de verdade. É a recuperação do poder que a mulher já teve, não é que ela precisa se empoderar, ela precisa reconhecer o seu poder.

IMG_3149.JPG

Glauber Bassi

IMG_3154.JPG

Michael Willian

omo é para você se encontrar na posição de trazer maior representatividade às pessoas com síndrome de down? Acredita que as pessoas com deficiência estão sendo mais aceitas pela sociedade?

Essa é uma grande responsabilidade, além de algo muito importante, pois sinto que assumindo esse lugar, eu posso ser inspiração para aquelas pessoas que me acompanham. Eu sempre mostro para os outros que eu sou uma pessoa real, que eu tenho sim a minha deficiência, mas não será isso que vai me impedir de alcançar os lugares que antes eram pouco ocupados por nós. E quando eu realizo que estou na posição de representar pessoas que também possuem deficiência, é muito importante e me sinto honrada, porque eu quero apenas mostrar que se eu consegui, elas também vão, os sonhos estão aí para serem realizados e devemos ir atrás daquilo que queremos.
 

Na internet, você se tornou um fenômeno nos últimos anos, e sabemos que as redes sociais podem ser um lugar de muito “hate”. Você já sofreu com isso? Como lida com as críticas e com os fãs?

 

Eu recebo muitas mensagens assim, mas acredito que de uns tempos para cá isso diminui um pouco, pois eu e minha família nos posicionamos e trazemos isso ao conhecimento de quem me acompanha, claro, de maneira correta. Mas quando falamos de emocional, essa é um pouco difícil, porque são anos que eu sofro com isso, até mesmo antes de ser a modelo que as pessoas conhecem hoje. Só que, hoje, eu ainda consigo usar esse espaço e a minha voz para poder passar aos outros que isso é errado e, além disso, é crime.
Então assim, eu vejo tudo de uma forma bem prática, porque se eu apenas me entristecer e reclamar, não irá resolver nada. E quando uma pessoa assume que ela pode atacar alguém com as falas delas, isso diz mais sobre ela do que sobre quem eu sou. Nesses casos eu quero que a pessoa seja responsabilizada de alguma forma, para que consiga entender o que está fazendo. E em meio a tudo isso, eu ainda recebo muitas mensagens de carinho, e que me fazem me sentir muito honrada de poder estar onde estou, mostrando os caminhos, oportunidades e possibilidades que as pessoas com deficiência e outras podem alcançar.

Você entrou na lista da Forbes Under 30, que é uma conquista muito marcante na carreira. E com essa visibilidade toda que ganhou, como pretende usar sua voz para apoiar mais pessoas com deficiência?

 

Ter recebido esse título foi realmente algo bem grandioso e uma das maiores conquistas que tive ao longo da minha carreira até aqui. Imagina, estar onde estou não foi um caminho fácil, mas também não foi impossível. E isso é o que eu quero mostrar para quem me acompanha, que nós podemos e devemos ocupar os espaço que desejamos e sonhamos, e ser uma pessoa com deficiência não deve se tornar algo para impedir isso. Se hoje eu ocupo esse espaço, já é uma grande representatividade, não só para outras pessoas com deficiência, mas também para uma sociedade desacostumada a nos ver em lugares assim.

Existem outros modelos com síndrome de down que você conhece no universo da moda?

No Brasil, eu ainda sou a única modelo profissional e o nosso objetivo é mudar esse cenário. Mas quando paro para pensar em modelos mundiais, em todo o universo da moda, eu consigo encontrar outras pessoas, mas ainda é um número muito baixo, e acredito que o importante aqui é começar algo transformador nesse mundo de moda e beleza.

Como você vê a sua carreira até aqui? Existem outras passarelas que você ainda deseja desfilar? E quais são os seus sonhos profissionais?

 

Eu consegui alcançar muitas coisas importantes e que sempre sonhei. Coisas que são muito marcantes para a minha carreira, como o fato de ter sido a primeira modelo com Síndrome de Down a desfilar em grandes passarelas, como a de minha estreia, que foi a Brasil Eco Fashion Week, depois a Milão e a São Paulo Fashion Week, além da oportunidade de estar na capa da Forbes Under 30. Então, eu olho a minha carreira e vejo até o momento que foi a realização de um sonho, e eu não teria conquistado tudo isso sem o apoio da minha família.
Para mim, nada é impossível e não tenho limites. O meu sonho ainda é estar desfilando em outras semanas de moda importantes, como a de Nova York e a de Paris. Além disso, ainda quero ter uma marca própria e ser estrela de grandes marcas como Gucci e Prada. Quero estar construindo cada vez mais uma carreira internacional e poder chegar na realização desses sonhos irá significar muito pra mim.

Qual recado você deixa para as pessoas que também querem seguir pelo caminho da moda mas ainda sentem um certo receio com o preconceito que poderá sofrer?

 

Eu apenas desejo que todos consigam ir atrás dos seus sonhos, é a maior realização que você pode fazer por você mesmo, e no meio disso tudo, apenas seja quem é, sem perder toda a essência. É importante que não deixe a opinião dos outros te coloque limitações e faça com que se sinta menos do que outras pessoas. Nós podemos ocupar os espaços que queremos, basta acreditarmos em nós e em nosso potencial.

bottom of page