GABRIELLA DI GRECCO CONSOLIDA TRAJETÓRIA AUTORAL UNINDO DRAMATURGIA, MÚSICA E DIREÇÃO CRIATIVA
- Redação

- 6 de ago.
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Atualizado: 11 de ago.

Na programação do recém-estreado canal Globoplay Novelas com a reprise de “Além do Tempo”, que estreou na TV há exatos dez anos, Gabriella Di Grecco reaparece nas telas brasileiras no mesmo momento em que uma outra camada de sua carreira ganha mais visibilidade: a da compositora, diretora vocal e artística e intérprete autoral. Longe de representar uma “nova fase”, o momento é o desdobramento visível de um percurso que ela vem construindo, de forma contínua, nos bastidores da cena artística.
“Nunca tratei a música como algo separado do meu trabalho, como atriz ou até diretora. Desde o começo, sempre enxerguei tudo como parte de um mesmo processo criativo, pois a arte em si mesma é muito integrativa e ela não se faz sozinha. Levei um tempo até descobrir que posso usar outras capacidades artísticas, com as quais fui abençoada, para poder crescer e entregar ao público também.”
Com formação sólida no teatro musical, a artista cuiabana construiu sua base técnica nos palcos. Atuou em montagens como “Meia-Noite Cinderela”, protagonizando duas versões sob direção de Jay Vaquer, e interpretou Glinda, de “Wicked”, na primeira montagem independente do Brasil. Em “Cinza”, uma ópera-rock, também independente, que protagonizou, ficou evidente a fusão que ela opera entre corpo, voz e dramaturgia — algo que viria a se repetir, com outras linguagens, em projetos futuros.

"Já dizia Aldous Huxley, autor de 'Admirável Mundo Novo', que depois do silêncio, aquilo que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música. E realmente, eu vejo isso na manifestação artística. Ela se conecta diretamente não só com a atuação, mas com todas as formas de arte. Sempre fui muito sensível à música e a usei como ferramenta para composição de vários personagens, como a vilã Nora em 'O Coro'. Tinha uma playlist na qual sempre escutava para a preparação dessa personagem e entrar na sua energia. Pra mim, a música e a atuação não estão separadas; pelo contrário, elas podem se unir e tornar a arte ainda mais potente, como podemos ver no teatro musical ou em canções lindamente interpretadas. Nesse sentido, a capacidade de atuação me ajudou muito no meu processo e no meu crescimento como compositora, porque atuar significa calçar o sapato dos outros. E essa habilidade me ajudou muito a entender o que o artista precisa e encontrar as palavras certas para ele se expressar com assertividade, criatividade e autenticidade. É muito legal perceber como a arte se une, e se pararmos para pensar bem, ela não é diferente, a música, a atuação, de qualquer outra manifestação artística, pois é uma expressão da alma, ela não é diferente da dança, ela não é diferente da moda, ela não é diferente da pintura, da escultura, do design. São muitas as formas nas quais a arte pode se expressar, e quanto mais estamos sensíveis a ela, mais nos aproximamos do invisível e do sagrado”, comenta.
Essa lógica apareceu com força em “O Coro: Sucesso, Aqui Vou Eu!”, série musical de Miguel Falabella para o Disney+ em que interpretou Nora. O personagem, uma vilã elegante e obstinada, exigia precisão vocal e dramatúrgica — algo que ela buscou já na escolha do repertório para a preparação da personagem. Ela comenta: “Foi muito interessante criar uma playlist para ela, gosto de trabalhar dessa forma com algumas personagens específicas. O mesmo aconteceu com C, em Cinza e Ana, em Disney Bia. Para cada uma dessas personagens, criei playlists específicas com canções que me ajudavam demais a me conectar com a energia de cada personagem. A música é uma ferramenta muito poderosa de conexão. O lendário Michael Jackson dizia que a música é a arte mais poderosa e impactante, porque ela entra no nosso subconsciente, como um mantra, e é verdade. Quando observamos os gêneros musicais que estão por aí, eles são ao mesmo tempo um reflexo e a reafirmação de uma cultura. Por isso, penso eu, que além de servir para a construção de uma personagem, ela impacta também no comportamento e na construção de valores e caráter das pessoas.

Durante a pandemia, o processo de composição tomou corpo. Gabriella passou a registrar ideias em gravações de voz e notas digitais, sem a pressão de terminar nada. Aos poucos, esse acervo pessoal se tornou matéria-prima para composições mais estruturadas, algumas lançadas sob o duo composto pelas irmãs, DIGRECCO, que une referências pop e uma abordagem visual consciente. Os clipes de “Veneno” e “Lado B”, ambos dirigidos por ela, são exemplos disso: não são apenas vídeos para ilustrar a música, mas parte integral da obra. O cuidado com estética, luz, câmera e montagem obedece à mesma lógica narrativa que estrutura a composição. Ela explica:
“A pandemia foi um período muito particular para a história da humanidade e para a história de cada pessoa. Acho que foi uma oportunidade interessante de se conectar com o interno, uma vez que a gente não podia sair de casa. Aproveitei essa oportunidade para experimentar processos criativos que eu tinha medo de fazer. Compor é parte disso. Comecei a compor de forma despretensiosa, sem querer lançar nada, sem querer pensar em uma carreira musical, apenas como um processo criativo de expressão através da palavra e através do som. Nesse sentido, foi bem interessante, porque, ao mesmo tempo, minhas irmãs, que compõem o duo DIGRECCO, estavam iniciando sua carreira e pensavam em fazer canções autorais. Vim nisso uma oportunidade de começar a compor para outras pessoas e usar esse processo para ajudar outros artistas. E assim foi com as minhas irmãs. Elas se encorajaram a começar a carreira autoral e eu fico feliz de ter ajudado elas nesse processo. Atualmente, uso isso e esse processo para compor para outros artistas. Já tive a chance de compor para vários gêneros diferentes, e isso é muito legal, pois calço, sapatos, de diferentes pessoas que têm visões de mundo completamente diferentes. Já compus para os gêneros pop, sertanejo, eletrônico, entre muitos outros. E cada artista de cada gênero tem valores e um sistema de pensamento completamente diferente uns dos outros. Isso amplia muito o nosso senso estético e visão de mundo.”
Essa mesma coerência orienta o uso vocal. Em parcerias como “En Tu Cara”, ao lado de Isabela Souza para o spin-off “Bia: Un Mundo al Revés”, também da Disney, Gabriella tomou decisões que não são meramente estéticas, mas estruturais: o contraste entre os timbres, a sobreposição de intenções, a tensão entre vozes.
“Para a gravação de 'En Tu Cara', conversei com a equipe da Disney Music sobre a possibilidade de trazer outro timbre para Helena, que nesse spin off era uma vilã debochada, mimada, incoerente, egocêntrica e egoísta. Eles amaram a ideia e me permitiram fazer ajustes vocais importantes para que o público sinta a diferença dessa versão da personagem não somente na atuação, mas também na música. Foi aí que a equipe da própria Disney me incentivou a começar a trabalhar com direção vocal.”
Hoje, Gabriella integra o time da Warner Chappell — uma das principais editoras musicais do mundo — e colabora com compositores de diferentes estúdios e espaços. Essas novas infraestruturas ampliam o alcance de sua produção, mas não modifica sua abordagem.
Pelo contrário, ela argumenta: "Estar em contato com artistas de diferentes setores faz você aprender demais! Eu amo estudar e aprender coisas novas. Esse momento da minha carreira tem sido um deleite pra mim, que tenho sol e mercúrio na casa 9 em aquário. A galera da astrologia vai entender muito bem do que estou falando! Hahaha!”, conclui.




