CAPA ESPECIAL

Cezar &
Lilian Lazarini

Foto: Marcelo Melo @marcmelo Maquiagem: @larysmakeup Direção: Felipe Moura

Vocês vêm de histórias marcadas por pobreza extrema e desafios familiares. Como essas vivências moldaram a forma como vocês enxergam o trabalho e a vida hoje?

Como você disse, viemos de famílias desestruturadas e fomos crianças que viveram a extrema pobreza. Mas o mais incrível entre nós dois é que, quando jovens, fomos empregados e, ainda assim, nunca nos sentimos como tal. Sempre trabalhamos como donos ou sócios das empresas por onde passamos. E, na vida, só existem quatro formas de enriquecer:

Um bom casamento (dois pobres, rs);
Uma boa herança (dois pobres);
Ganhar na loteria (nunca acreditamos nisso);
Trabalhar de forma digna, inteligente e constante — foi o que fizemos.

Cezinha, você conta que desde muito jovem observou o progresso dos donos de uma metalúrgica e decidiu que teria sua própria indústria. Em que momento essa visão deixou de ser um sonho distante e começou a virar realidade?

Adorei o “Cezinha”, meus amigos me chamam assim! Na verdade, eu não queria montar uma metalúrgica, eu queria montar uma indústria. Isso não ficou muito vívido na minha mente naquele momento; foi apenas uma semente que plantei bem no fundo, na terra do meu inconsciente. Um dia ela germinaria. Você não fica olhando todos os dias para ver se a semente brotou. Você planta e, quando menos espera, lá está uma pequena plantinha, que vai precisar ser cuidada por muitos anos — às vezes décadas — até se tornar uma árvore frondosa e cheia de frutos.

Lilian, você sempre atuou como o lado comercial da empresa. Em que momento percebeu que essa era sua grande força e que poderia transformar o negócio da família?

Desde criança sempre gostei de vender, mas nunca imaginei isso como uma profissão. Sempre fui boa em me relacionar com as pessoas, acredito que isso seja um dom. Entrei nas vendas meio “no susto”. O Cezar me jogou para esse lado, me deu a direção e disse: “Você pode”. Não tinha muita escolha: era vender ou vender.

Vocês decidiram mudar para o interior de São Paulo e abrir o primeiro salão de cabeleireiro. Como foi assumir esse risco juntos, como casal e como empreendedores?

Quando conheci o Cezar, ele disse que o sonho dele era sair de São Paulo. Eu sou filha única e sempre soube que precisaria estar perto da minha mãe. Eu havia acabado de dar à luz a Melzinha, e minha mãezinha decidiu ir embora para o interior. Não pensei duas vezes, fui atrás dela. A ideia era ficar apenas três meses, mas o Cezar disse: “Vamos morar aí!”.

Administrar um salão, um disque-pizza e uma pizzaria ao mesmo tempo parece algo quase impossível. Que aprendizados surgiram dessa fase intensa de múltiplos negócios?

Eu sou a moderadora do Cezar. Se eu bobear, ainda hoje o espírito empreendedor dele abre uns 12 negócios por ano. Posso jurar que não foi fácil, mas era tudo o que tínhamos naquela época: ímpeto, coragem e uma vontade enorme de dar certo. Isso moldou nossa mentalidade empresarial. Tudo o que aprendemos foi na marra, no acerto e no erro, porque ele nunca me deu a opção de desistir.

O encontro com o empresário que convidou o Cezinha para auxiliar na administração de uma marca de cosméticos mudou o rumo da história de vocês. Como receberam esse convite e o que fez vocês acreditarem que era a escolha certa?

Eu acredito que, quando o aluno está pronto, o mestre aparece. Para mim, esse encontro foi como um jardineiro que limpou os matinhos que sufocavam a semente que o Cezar havia plantado há muitos anos.

Vocês descrevem uma trajetória de “suor, sorrisos e lágrimas”. Qual foi o momento mais difícil dessa caminhada — e qual pensamento impediu vocês de desistirem?

Desistir não existe no dicionário do Cezar. Se dependesse de mim, teríamos parado em 2010. Ele é extremamente motivado, sempre acredita que já deu certo. E, quando dá errado, ele pergunta: “O que você aprendeu com isso?”. Ele agradece todos os dias a Deus até pelos problemas, porque são eles que nos sustentam e nos fazem crescer.

Cezinha, você usa a metáfora da raiz que balança, queima, murcha, mas nunca cai. Como essa imagem representa sua liderança e sua contribuição para a empresa?

O líder, em hipótese alguma, pode deixar seus liderados esmorecerem. Minha esposa é emotiva, e eu sempre disse: lugar de chorar é na cama. Eu e ela choramos juntos. Nossos problemas são nossos; os funcionários não precisam saber de tudo.

Com Vinícius assumindo parte do processo produtivo após se formar em química, como vocês enxergam o futuro da empresa dentro da família?

A partir de 2026, vamos mostrar ao mundo o excelente profissional que temos aqui, quase escondido. Quando o químico é seu filho, você tem certeza da qualidade. Em 10 anos de empresa no Ceará, as reclamações que tivemos não enchem uma mão. Problemas sempre existirão, mas ter uma pessoa de confiança no controle é garantia de sucesso.

Hoje, olhando para trás e vendo de onde vieram, o que vocês diriam para outras pessoas que também carregam histórias de privação e querem empreender, mas não sabem por onde começar?

Diríamos para começar cuidando da mente. Sucesso não depende apenas de quanto você trabalha ou de quanto dinheiro você tem. Sucesso depende de dois fatores: o quanto você deseja de verdade e se você está disposto a pagar o preço.